sábado, 14 de julho de 2007

a direção...

9 pessoas caminham em um grande galpão. Formam uma espécie de círculo em torno de um homem. Ao fundo uma agradável música instrumental, cadenciada, dando tom a brincadeira. Este homem ao centro fala para os demais. “Uma tartaruga que algum antepassado seu comeu. Talvez a memória desta refeição continue em você. A memória de seu corpo, de sua musculatura”.
As pessoas estão concentradas em suas tarefas de sentir seus corpos, de pensar seus corpos. Um pensar que não está no plano da razão. Está no sentir do corpo.

Hoje demos início ao primeiro ensaio. Jesser é quem coordena o trabalho. Brisa e Érica são as diretoras do trabalho. Érica participa da atividade enquanto Brisa acompanha tomando notas do que está sendo feito, observando os atores, o trabalho. A querida Brisa está muito concentrada na sua tarefa. Dirigir meus atores.
Eu também estou observando. Na verdade escrevo estas palavras enquanto observo. Encantado com o que de certa forma minha energia gerou. Feliz em ver meu trabalho ganhando forma, se materializando.

Ontem fui dormir meia noite, absolutamente cansado. O trabalho de hoje teve início às 7h30. Coloquei meu relógio para despertar às 6h00. 5 e 15 acordei e não pude mais dormir. Preparei um café da manhã para as 10 pessoas hoje aqui presentes.Comprei 20 pães, frutas, fiz café. É verdade que Leila, minha companheira me ajudou... Felizmente todas as pessoas chegaram no horário. Acho que isso de certa forma reflete um interesse, um compromisso. E por outro lado pode querer dizer que estou conseguindo motivar as pessoas envolvidas. Um pouco mais tarde descobri que preparei muito mais comida do que as 10 pessoas seriam capazes de comer... Vai sobrar muita coisa.

A função de um diretor de cinema está se formando em minha cabeça. Tenho transitado entre produção, planejamento, fotografia, arte e trabalho com atores. Destas funções, as que eu mais tenho gostado de fazer é justamente o roteiro técnico, isto é, a definição dos planos, dos movimentos de câmera, da concepção estética e de linguagem do filme. A outra é o trabalho com os atores. O desafio é transmitir com firmeza, com clareza, com amor aquilo que eu vejo nos personagens.

O diretor tem que ser uma fonte inesgotável de energia. Ele tem por função, além das técnicas, ser por excelência o foco do filme, a fonte do filme. O diretor tem que ser fundamentalmente um cara legal, acessível, alguém em que se confie, que se goste. O diretor deve estar próximo da produção, da arte, da fotografia e, muito, dos atores.
Ele tem que ser o próprio filme, a verdade do filme. Ele tem que ser um pouco mãe e através de sua mão permitir que os outros também se sintam mães, se sintam parte, criem, inventem, recriem e interpretem.

Falei aos meus atores do que talvez seja minha característica como pessoa: Quero que meu filme seja nosso. Quero criar com vocês. Quero que vocês me falem dos personagens, me digam como e o que eles falam. De que maneira. Quero que vocês critiquem e proponham coisas para meu roteiro e que no final, da idéia original, reste apenas a idéia.
Acho que a coisa não faz sentido pra mim se a construção não for coletiva. Prefiro o “nosso” ao “meu”.

Eita.
Algumas fotos das atividades.

Hidalgo Romero





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