sexta-feira, 13 de julho de 2007

Sobre o elenco e o trabalho com atores

Serão 6 personagens e 2 ou 3 pequeninos papéis, fora alguns figurantes.
O ponto fundamentalmente para mim era: já que meu tema é violento, já que eu irei tratar da violência, então se eu mostrar essa violência na tela eu estarei reforçando algo que já é pesado demais por si só, e decididamente não precisa ser reforçado.
A opção por um tratamento violento na interpretação dos personagens, embora perfeitamente cabível dentro do meu contexto, seria tornar um filme excessivamente pesado, e creio que isso faria com que ele (o filme) deixasse de dialogar com muitas pessoas que já tão cansadas de tanta violência na vida real, no cotidiano.
Como disse o amigo Cláudio Minetto, “você quer mostrar ainda mais violência?”...
Pois é. O que eu quero não é falar de violência, nem mostrar algo violento, mas falar sobre a maneira com que a televisão aborda a violência. Eu quero construir uma crítica sobre a violência e não fazer dela uma questão.

Assim, desde o começo eu já tinha uma vaga idéia de que meus personagens não poderiam ser violentos, ou mesmo fazerem parte de alguma cena de violência. Eles teriam que interpretar o “antes”e o “depois” da violência. O que me interessa é o subjetivo, é o preliminar, é o simbólico desta história. No caso de um sequestro, por exemplo, não me interessa como ou de que maneira os personagens irão se atracar, se machucar, se violentar, mas sim que tipo de relação o Anderson, o sequestrador, e a Glória, a sequestrada, irão desenvolver. Que tipo de relação pode ser criada entre duas pessoas dentro de um banco 24 horas após 10 horas de convivência?
Que relação a esposa de um pretenso ladrão de ocasião, uma mulher de valores morais muito bem delimitados por uma orientação religiosa, pode criar com seu marido? Que relações o ladrão pode construir em uma negociação com a polícia brasileira, com um menino de 20 anos que está morrendo de medo da situação e tem permissão para atirar?

Enfim, no trato com os atores eu penso em abordar muito mais o que está por trás das ações do que elas propriamente ditas.

Neste sentido eu precisava de duas coisas: atores que se envolvessem com o projeto e atores que extraíssem de sí o personagem que será interpretado, através de uma pesquisa de campo, ou como construiu o LUME, grupo de teatro de Barão Geraldo, uma pesquisa orientada pela Mímese Corpórea.

Assim eu precisava de um ou dois diretores de atores que tivessem envolvimento com a arte interpretativa e que topassem essa empreitada. A Brisa, amiga e atriz, concordou em tentar esse trabalho. Ela por sua vez chamou uma amiga para ajudá-la, a Érica. E fiquei absolutamnete lisonjeado e feliz quando o Jesser, um veterano do LUME, se interessou pelo projeto e concordou em fazer uma espécie de orientação de atores, com a Mímese Corpórea.
Assim propus um trabalho que fosse construído em 3 oficinas de 3 horas, semanais, que antecederiam obrigatoriamente os ensaios para o filme. Os ensaios por sua vez serão feitos em 5 dias, que antecederão as filmagens, nos dias 3,4,5 e 6 de agosto.
Minha proposta é que cada ator terá a liberdade de construir totalmente seus personagens através de uma pesquisa e inclusive propor cenas, diálogos e situações. Estaremos trabalhando com um roteiro aberto, isto é, sem roteiro e sem falas pré-definidas. Quero construir a cena na cabeça dos atores e a partir daí eles irão extrair deles mesmos a fala, o jeito de falar, as palavras e todo o resto. Inclusive no caso do personagem principal, que na minha cabeça quase não fala, ele terá que construir um diálogo fundamentalmente corpóreo.

Estaremos trabalhando também com alguns atores que não são atores profissionalmente. Já escutei que alguns cineastas preferem trabalhar com não atores. Isso se justificaria pelo fato de que, primeiro, a interpretação no teatro tem outra lógica da interpretação no cinema, e segundo porque o ator de teatro tem uma série de “vícios”do teatro que simplesmente não funcionam no cinema.
Sobre a primeira prerrogativa, acho que essa natureza distinta das técnicas interpretativas se dá principalmente nos tempos e sequencias da relação ator/personagem. No teatro, uma vez aquecidos, uma vez concentrados os atores iniciam suas ações e sustentam o personagem por um determinado tempo contínuo. No cinema a coisa funciona aos tranquinhos, aos pedaços e entre cada cena distinta, entre cada plano muitas vezes a ação é interrompida pela necessidade de iluminação ou mesmo de observações do diretor, e o ator esfria e desmonta seu personagem.
Sobre a segunda afirmação, creio que estes tais “vícios” que supostamente o ator de teatro tem dizem respeito a necessidade de expressões faciais e gestos que terão que ser visto por gente que está na décima, décima sexta fileira e portanto não vê com clareza a própria interpretação do ator.
No cinema a coisa funciona com mais sutileza, com menos exagero. Tudo é visto pelo olho da câmera e pelo filtro do diretor...

Mas realizando os testes com meus atores percebi um ponto que depõe contra esta teoria de que não atores podem se dar melhor no cinema: Não atores não têm o que estou chamando de “repertório” gestual e técnico que o ator desenvolveu ao longo de anos.
Por exemplo: como representar uma reação de medo? Existem uma infinidade de maneiras de se fazer isso. No entanto, qualquer pessoa tem alguns pequenos truques na manga, e que estão em um inconsciente coletivo humano e que portanto acabam, no caso das artes interpretativas, sendo as primeiras e mais obvias reações. O ator desenvolveu ao longo dos anos um repertório maior de reações ao medo, que fogem do obvio e espontâneo.
Em outras palavras, embora o ator de teatro no cinema PODE trazer alguns vícios, ele também tem mais repertório do que o não ator. E o não ator por sua vez, é muito mais dependente da direção do que o ator.

Bem, deixando de xurumelas, realizei testes com quase 25 atores, buscando em suas vozes, expressões e gestos aquilo que eu via em meus personagens. Depois de muitas discussões e algumas dúvidas cheguei, chegamos, eu Brisa,Érica e Jesser aos 7 atores para o papel.
As suas fotos estgarão sendo postandas logo abaixo. Espero que ninguém se incomode... Se isso acontecer, eu tiro. Hehe.

Inté

Hidalgo Romero


Ivens interpreta o Anderson.



Melissa interpreta a Rita.



Sandra interpreta a Glória.



Alfredo interpreta o Pedrão.



Guga interpreta o policial de 20 anos.



Fabio interpreta o policial experiente.



Rabelo interpreta o repórter.

Um comentário:

יעקב disse...

firmeza total em hidalgo...

o blog tá bem massa, legal de ver e acompanhar...

lembro qnd vc enviou esse roteiro pra lista da muda, acho, ou pra lista da capoeira, não sei... mas lembro que li e gostei! acredito que deve ter mudado bastante desde então, pq faz um tempo, mas com certeza foi pra melhor... espero q vc continue postando coisas pra gente poder acompanhar o trampo... e é bem legal tb ver vários parceiros envolvidos, trasmpo em família mesmo.....

muita positividade pra toda a equipe!!!

thiago sodebomba