sábado, 21 de julho de 2007

Segundo ensaio

A Brisa, a Érica e o Jesser esta semana se encontraram e construíram algumas dinâmicas de trabalho com os atores do 38.
Um dos pontos que eles irão trabalhar é o “estado de alerta”do ator, isto é, a capacidade de montar e desmontar o personagem rapidamente. Característica esta importantíssima no cinema, uma vez que entre um refletor e outro, que entre algum acerto de arte e outro, os atores passarão longo tempo esperando, até o momento de, em apenas poucos segundos, interpretarem a cena proposta.
Também conversamos esta manhã sobre possíveis detalhes que o roteiro fornece sobre o ator e sua ação. Ficou de lição de casa cada um dos atores levantar as indicações de seus personagens.
O Ivens disse ter visto o Ônibus 174. Ele ficou impressionado com o filme. Ele disse: “filme nada. Isso foi realidade”. Acho que este filme é um lado do Anderson. O lado mais cruel dele. O lado mais pobre e realista. Outro filme que eu gostaria que o Ivens assistisse é “Um dia de cão”, com o al Pacino. É uma história muito parecida com a minha. Mas o personagem é menos agressivo, menos violento, mais inseguro do que está fazendo. Neste filme o personagem tem o que perder, diferente do filme ônibus 174. Se bem que todo mundo tem algo a perder...
Os atores começaram hoje a montar as cenas. Criamos um balcão de bar e pusemos todos os personagens juntos, interagindo. Foi muito divertido. Do Pedrão, o dono do bar, pudemos notar 2 características muito interessantes, que podem facilmente serem trazidas para o personagem: Ele é muito organizado com as coisas do bar. Posiciona os objetos de maneira alinhada e equilibrada. Ele também tem uma firmeza no falar, como se mantivesse sempre sua autoridade sobre seus clientes. “Não esquenta com a conta hoje. Mas também não esquece dela”, ou “Fique a vontade. Mas nem tanto”.
Do Anderson com a Rita, ou do Ivens com a Melissa eu gostei muito de uma cena de afeto entre os dois. Ela o acaricia e ele se deixa acariciar, numa verdadeira relação de amor. Gostei muito dessa relação. Irei incorporar no roteiro algo deste tipo. Acho que o conflito do anderson, e sobretudo o impacto dele no sequestro vai se dar com mais intensidade criando este contraponto. Do afeto e da raiva.
Com relação ao policial, acho que uma característica muito forte do Guga – o humor – pode perfeitamente ser incorporada no trabalho. Propus a ele algumas pesquisas com policiais de verdade, talvez no Quarto DP de Campinas.
E por fim a Glória me parece já alguma coisa madura. Acho que o desenho geral dela está pronto. No entanto acho também que ela deve se transformar de alguma maneira. Acho que ela deve revelar algum traço de sua personalidade quando submetida ao estado de tensão do sequestro. Como se ela se revelasse algo que ela não era até então. Este personagem poderia facilmente cair no esteriótipo da luta de classes. Ela representaria então a classe dominadora. Teria a arrogância da burguesia intelectual de esquerda. Mas acho que se assim fosse, eu estaria conduzindo o personagem para um caminho errado, ou no mínimo bobo. A Glória é uma pessoa, com qualidade e defeitos. Ela não deve representar uma classe social. O trabalho de julgar deve ser feito pelo público e não pelo diretor. Não quero atribuir moralidade à ela.
Que difícil...

Fiquei muito satisfeito com o ensaio, com o trabalho de atores, com os atores e com a conversa no final do ensaio. Acho que tenho algumas coisas valiosas nas mãos. Preciso de bom humor, planejamento e inteligência pra coordenar tudo isso e chegar no filme que quero fazer.

Hoje fecho 2/3 das locações. Vou fazer uma reunião com a arte. A Coraci e o Julio também foram hoje fazer o making of do 38. Muitas coisas a serem feitas. Algumas ansiedades e pequenas complicações gastro intestinais, em decorrência de certo nervosismo, creio.
No mais, tudo em foco.

Hidalgo

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