sábado, 28 de julho de 2007

Eu, diretor




Sábado à noite, 11 graus e metade do filme pra pensar.
Tive uma idéia de em um novo projeto. Não sei se pode ser chamado de filme, talvez seja apenas um estudo interessante, uma pesquisa. Mas pode se tornar um filme mesmo.
À partir de um mesmo roteiro de 5 minutos, 5 diretores diferentes irão realizar 5 filmes.
Estou muito curioso em entender mais este longo trajeto entre o roteiro e o filme. A percepção é a de que diferentes diretores podem dar interpretações e soluções completamente diferentes para o mesmo roteiro de modo que, ao final do processo poderemos ter 5 filmes completamente diferentes...

E curiosamente é exatamente isso que estou fazendo neste momento: re-interpretando meu próprio filme, à partir de meu próprio roteiro.
Na sexta o Rodrigo Toledo veio à Campinas. Fizemos a decupagem técnica da nossa diária mais complicada, a do banco 24 horas. Trabalhamos horas nisso. E no final do processo eu tinha a certeza de que eu acabaria mudando ainda muitas sequências. Eu ainda não estava convencido de que alguns planos ainda não estavam resolvidos...
Contamos os planos: 35. Se cada plano fosse feito com um mínimo de 2 tomadas, se tudo corresse bem, seriam 70 planos na noite. Carros de polícia, 15 figurantes, interpretações complicadas. Luzes pesadas e muitos movimentos de câmera. Chegaríamos na locação às 15h00. Arrumaríamos tudo para ao cair na noite, às 18h00 afinaríamos as luzes. Às 19h00 comeríamos e começaríamos as gravações de fato às 20h00. Até o amanhecer, teríamos 8, talvez 9 horas de trabalho.
Conclusão: impossível rodar nesta locação em uma diária.
Soluções possíveis: Ou filmamos em 2 diárias ou eu corto o roteiro.

Aumentar um dia de gravação é impossível (ainda que esta resposta irrite tremendamente o Rodrigo...). Cortar o roteiro pareceu a solução mais plausível.

Eu estava neste processo quando o Julio me anunciou: “corremos o risco de não conseguir de fato os carros de polícia. Aciona o plano B”.
Plano B? Que plano B? Eu tinha que ter o plano B?

Esta situação me abriu os olhos para duas coisas.
Primeiro: Que idéia está envolvida na produção de um filme de curta metragem independente no Brasil? Ou ainda: O que significa fazer um filme sem dinheiro no Brasil e ainda assim fazer um bom filme? Quem sabe dois filmes um dia?
Segundo: Que maneiras de interpretar a realidade o diretor pode criar de forma mais interessante?

Devemos fazer filmes ainda que não tenhamos dinheiro para isto. Devemos fazer filmes que possam ser feitos. Temos que produzir antes de tudo. Falar, mostrar, fazer, tornar possível. Temos que nos apropriar do cinema, torná-lo próximo e possível.A criatividade deve superar a barreira econômica.

É uma questão técnica totalmente vinculada ao tipo de filme que se quer fazer. Tempo, ritmo, dramaturgia, fotografia e movimentoss de câmera. É a verdadeira arte da coisa. Por isso o filme é do diretor... É o olhar do diretor sobre história que se que contar.
Por isso pensei no filme feito por vários diretores à partir de um mesmo roteiro. Porque acho que seriam feitos 5 filmes completamente diferentes.

Acho que eu estava equivocado em minha primeira decupagem técnica, ou melhor, acho que eu estava errado no caminho que eu estava dando para a conclusão do filme.
Foram dois problemas: eu estava complicando para a produção e minha criatividade estava sem estímulos. Eu estava buscando o obvio, enquanto eu deveria buscar o autêntico. Esse “autêntico”não significa necessariamente complicado. Uma solução simples pode ser autêntica se for honesta.
Muita movimentação de câmera, por exemplo, exige um conhecimento grande do plano. Exige muita experiência e sensibilidade.

Estou concebendo neste momento, à 6 dias do início das filmagens, algo que acredito ser mais bonito e interessante. Estou pensando em dar mais ritmo às tomadas, em trabalhar mais próximo da música. Quero buscar mais planos fechados e tentar contar a história aos pedaços.
Fundamentalmente irei resolver meu filme na montagem.

Amanhã tenho ensaio às 9h00.

O Brasil está jogando com os EUA e ganhando bonito.
Vamos que vamos que a coisa exige dedicação.

Inté

Hidalgo Romero

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